terça-feira, 22 de setembro de 2009



A primavera, a frustração do Pererê e do Tininim e a lição do Geraldinho (ou do Alan?).


Dia 22 de setembro, 2009. Termino minha leitura devocional e entro na Internet para ver as notícias. Sou informado que a primavera começa hoje, às 18h18min. Chega-me email de minha amiga Dra. Kátia Nichele, sobre a primavera. Respondo-a e caio nas minhas lucubrações (sempre quis dizer que lucubro! E às vezes sou lúgubre.).
Citei-lhe uma música que se cantava no Rio, na minha adolescência: “O Rio amanheceu cantando, Toda a cidade amanheceu em flor, Os namorados descem a rua em bando, Porque a primavera é a estação do amor”. Comento que o Rio não amanhece cantando, a cidade não amanhece em flor, namorados não andam em bando e qualquer estação é propícia ao amor. E aí mostro toda a minha erudição. Cito uma grande obra literária, o Pererê, do Ziraldo. Foi um gibi que saiu primeiro quando eu era adolescente, e depois quando moço. Tenho a coleção inteira do Pererê. Ziraldo não tem, e até quis comprar!
Numa das histórias, Pererê, o simpático saci, e seu amigo Tininim, um índio hipocondríaco, saem em busca de uma flor para suas namoradas, Boneca de Piche e Tuiuiú, respectivamente. Cada um por um lado, e não encontram. Por fim, no alto de um morrinho, uma flor. Saci e Tininim vão, um de cada lado, e pegam a flor juntos. Acabam brigando, a flor é destruída, e ficam sem presente de primavera para a namorada. Aparece outro personagem, que agora fiquei em dúvida. Os gibis estão guardados em uma caixa e não estou disposto a abri-la. Não sei se foi o Geraldinho, um coelho esperto, ou o Alan, um macaco músico. Com uma braçada de flores. E vende uma para cada namorado levar para sua amada.
Pererê pergunta onde ele encontrou as flores, e ele diz: “Plantei”. Se foi Geraldinho ou Alan, não sei, mas aprendi, desde a adolescência, que as flores devem ser plantadas. Muita gente as procura para embelezar sua vida, e espera encontrá-las acidentalmente. Elas embelezam e perfumam, mas devem ser plantadas. Quem as planta, tem. Quem procura, pode ser que encontre pode ser que não. O mais certo é plantar.
Há gente procurando beleza para sua vida. Buscando perfume. Espera encontrar sem ter plantado. Temos o que plantamos. “Pois tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7) não tem a exclusividade de uso para má semeadura. Também tem para a boa semeadura. Independente de ser primavera, semeie coisas boas. Não espere encontrar flores em sua vida, acidentalmente. Plante-as. É pouco provável que se plantar a perfumadíssima dama da noite você colherá pepino.
Sua vida não é sucessão de fatos desconexos, sem ligação, e de acidentes. Muito do que nos sucede foge ao nosso controle, mas muito do que colhemos é o que plantamos. Por isso, faça sua primavera. Plante suas flores. Você as colherá. E embelezará e perfumará sua própria vida.


Isaltino Gomes Coelho Filho

terça-feira, 7 de julho de 2009


A visão dos 7 montes


Trata-se de uma visão de reestruturação da sociedade por meio de um projeto chamado os “7 Montes”. Esse projeto tem por objetivo contribuir para o crescimento do Reino de Deus nos distintos segmentos da sociedade.Entendendo que Deus, por meio de Jesus, comissionou a cada um de seus filhos para discipular as nações. E isso não se restringe à salvação recebida pela graça por meio do sacrifício de Cristo. A mensagem bíblica completa é uma visão de mundo, uma visão de vida, a fim de explicar toda a realidade. A resposta cristã surge quando se vive a verdade de Cristo em cada aspecto e segmento da vida.E é nesse pensamento que se insere a visão dos Sete Montes. Um ideal que surgiu e foi construído em 1975, quando Bill Bright, da Cruzada Estudantil, e Loren Cunnigham, da Juventude com uma Missão (JOCUM), se encontraram. Deus concedeu a cada um deles uma mensagem para compartilhar mutuamente, baseada no fato de que “a cultura está estabelecida sobre os sete montes da sociedade, os modeladores de mentalidade, ou formadores de opinião”, sendo eles:


1. Artes & Entretenimento;

2. Mídia & Comunicação;

3. Governo & Política;

4. Economia & Negócios;

5. Educação & Ciência;

6. Família;

7. Igreja & Religião;


O projeto nasceu nos Estados Unidos da América e foi no final dos anos 90 que esta visão tomou força, com distintos movimentos que tinham como propósito fundamental cumprir a missão de transformar a sociedade por meio da atuação dos filhos de Deus. Uma visão que busca que a Igreja possa ser sal e luz entre as nações. Que a Igreja se levante como um referencial dentro dessas áreas que são os sete pilares, entre os quais atuam os formadores de opinião, onde a sociedade se encontra alicerçada.Em Isaías 2.2-3 está escrito: “E acontecerá nos últimos dias que se firmará o monte da casa do Senhor no cume dos montes, e se elevará por cima dos outeiros, e concorrerão a ele todas as nações. E irão muitos povos, e dirão: Vinde, subamos ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos nas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor”. Nos últimos dias o monte da casa do Senhor se levantará sobre os demais montes e entre eles fluirá a vida de Deus. Ide a cada uma dessas áreas e seja sal e luz. Você será equipado para ser um agente de transformação em sua área de atuação.


Como eu posso atuar neles?A atuação nos “7 Montes” é de maneira simplificada expressar a glória de Deus onde quer que você exerça qualquer tipo de função. Ou, se você é um economista, um pedagogo, um pintor, um cantor, um cientista, que Deus seja o centro de tudo aquilo que você desenvolver em sua área de atuação. Que o Senhor seja resplandecido, assim como os Seus ensinamentos em tudo aquilo que você faça.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Amigos... loucos e santos.

Loucos e Santos - Oscar Wilde

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero-os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.

Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.

Quero-os metade infância e outra metade velhice.
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto e velhos, para que nunca tenham pressa.
Quero amigos para saber quem eu sou...
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril..."

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Síndrome de burnout: não se deixe queimar

A saúde dos líderes pastorais tem sido colocada em cheque constantemente por uma série de males que têm acometido vários pastores nos últimos dias. Os pastores lutam com desafios espirituais em sua essência, mas, não se limitam a estes. Como sujeitos "bio-fisio-psico-socio-espirituais" lidamos o tempo todo com outros indivíduos que mantém a mesma complexidade. Desta dinâmica de relacionamentos uma série de males pode emergir.
Dentre as doenças que têm sido diagnosticadas existe uma sobre a qual eu nunca havia ouvido falar até a pouco tempo. É a chamada "Síndrome de Burnout", um mal que parece ter sido feito sob medida para os líderes pastorais que tem na ministração a outros a sua marca de trabalho.
Pregar, ensinar, liderar, aconselhar, visitar, consolar, encorajar, corrigir, planejar, mediar etc. São tarefas que têm tudo a ver com a possibilidade do líder sofrer desta síndrome. Já foi constatado em pesquisas que os profissionais expostos a altos níveis de estresse e aqueles que trabalham em funções em que precisam se doar mais como pessoas são os que mais apresentam este mal.
Os pastores têm todo o perfil para serem vítimas comuns dessa síndrome. Podemos traduzir a palavra "burnout" como "combustão completa", ou seja, algo queimado totalmente. Psicologicamente falando este termo se aplica a uma situação de completa exaustão e entrega ao desencorajamento. Este termo pode ser aplicado ao pastor quando este se vê "queimado" com reflexos espirituais, emocionais e físicos. Este mal é terrível e infelizmente temos de constatar que muitos colegas já estão sofrendo dele. Há muitos líderes "queimados", que já há muito tempo têm revelado sintomas dessa síndrome, talvez eles mesmos não notem, mas quem está ao seu redor sim!
Outro dia atendi um pastor de outra denominação no gabinete que chegou apresentando exatamente os sintomas dessa síndrome. Ele chegou ao ponto de dizer que, em determinados momentos, tinha vontade de jogar o carro no poste. Graças a Deus hoje ele está bem. Nenhum pastor está livre disso.
Quais são os sintomas dessa síndrome? Segundo estudiosos os principais sintomas são:
· Exaustão emocional com uma profunda falta de estímulo profissional. As perspectivas se perdem, os sonhos são abandonados e a ansiedade ganha espaço.
· Despersonalização com uma insensibilização diante de tudo e de todos ao redor. O pastor veste uma couraça de auto-proteção diante das tensões interpessoais e circunstâncias do dia-a-dia laboral.
· Perde-se a capacidade de produzir criativamente e as tarefas que ainda continuam sendo feitas se transformam em simples obrigação e rotina.
· Apresenta comportamento agressivo e irritadiço sem motivo aparente e um mau humor freqüente.
· Sentimento de baixa realização e desencorajamento profissional com uma avaliação muito negativa sobre si mesmo.
· Sentimento de derrota e abatimento também são comuns.
· Além disso tudo, ainda pode surgir a depressão.
Pela natureza do trabalho, os pastores estão na linha de frente daqueles que podem sofrer da "Síndrome de Burnout". Um pastor acometido dessa síndrome irá gerar problemas para si mesmo, para sua família e para as pessoas a quem tem de ministrar.
Como podemos buscar prevenir este mal? Penso que não uma, mas muitas ações são indicadas para prevenção:
· descanso freqüente,
· um sono reparador,
· a prática de um hobbie ou esporte saudáveis e contínuos,
· uma alimentação correta,
· uma saúde em dia,
· uma visão de si mesmo equilibrada,
· a manutenção de expectativas realistas em relação si mesmo e ao ministério,
· o compartilhar contínuo de fardos,
· uma vida devocional coerente,
· o desenvolvimento de amizades verdadeiras,
· uma divisão mais eqüitativa de horários,
· a quebra eventual da rotina de vida,
· o não acumulo de emoções negativas,
· mudanças na vida sempre que possíveis e necessárias,
· o desfrutar de aspectos mais simples da vida como um abraço de um filho,
· o carinho da esposa e o sorriso de um amigo leal,
· uma caminhada em um local tranqüilo,
· uma leitura por prazer, etc.
Tudo isso pode cooperar. Se você percebe que está sofrendo desse mal, não se desespere, procure ajuda, há cura. Não tenha vergonha de abrir o coração com alguém que de fato possa lhe ajudar neste momento. Sua vida é muito preciosa para ser "queimada".
Talvez a pior conseqüência da "Síndrome de Burnout" seja a possibilidade de nos levar a perder a capacidade de descansar no Senhor, mas é ai que reside a base para a prevenção e a cura desse mal.
Se como pastores estamos na linha de frente para sermos pegos por este mal, por outro lado, temos ao nosso dispor o maior recurso do universo para sermos sarados - a mão de Jeová-Rafa estendida em nossa direção. Que ele nos abençoe, nos guarde e nos cure.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Procuram-se Amigos

Ricardo Gondim



Quando eu era menino, mamãe me aconselhava a tomar cuidado com os meus amigos. Depois, quando cresci mais, meu pai repetiu para mim o surrado provérbio: “Dize-me com quem andas e te direi quem és”. Não consigo avaliar se consegui obedecer-lhes, mas, por outros motivos, venho trocando de amigos.

Cheguei à meia-idade bem decepcionado com a palavra “amizade”. Como reluto para não tornar-me cético, busco andar ao lado de verdadeiros amigos, porém, isso não é fácil.
Por causa da internet, consegui encontrar um companheiro bem antigo, que imaginei ser um bom amigo. Eu havia perdido o contato com ele há alguns anos. Redigi uma mensagem cheia de afetos e saudade e supliquei-lhe que retomássemos nossos vínculos. Acrescentei que anelava por companhia. Ele agradeceu a minha “carta eletrônica” e propôs que, daquele dia em diante, compartilhássemos nossos esboços de sermões. Quase chorei. A última coisa que eu queria dele era o “esqueleto” de suas pregações. Mesmo com tantas decepções, insisto em garimpar bons amigos.

Quero ser amigo de quem valorize a lealdade. Depois que a ditadura militar soltou meu pai, ele continuou estigmatizado como um “subversivo”. Um dia papai me contou, com lágrimas nos olhos, que seus antigos colegas da Aeronáutica desciam a calçada para não se verem obrigados a cumprimentá-lo publicamente. Ainda guardo esse trauma e, sinceramente, não consigo lidar com amizades que só se mantêm por causa de conveniências, qualquer uma. Quero acreditar em amizades que não se intimidam com censuras, que não retrocedem diante do perigo e que não abandonam na hora do apedrejamento. Amigos não desertam.

Quero ser amigo de quem eu não precise me proteger e que não tenha medo de mim. Não creio em companheirismos repletos de suspeitas. Os grandes amigos são vulneráveis. Conversam sem se policiar, rasgam a alma e sabem que seus segredos jamais serão lançados em rosto ou expostos publicamente.

Quero ser amigo de quem não se melindra facilmente. Por mais que tente, continuo tosco; magôo meus amigos com meus silêncios, com minha introspecção e, muitas vezes, com meus comentários ácidos e impensados. Portanto, preciso de amigos que tolerem minhas heresias, minhas hesitações e meus pecados. Busco amizades que agüentem o baque das minhas inadequações. Preciso de amigos teimosos.

Quero ser amigo e não um mero cúmplice de vocação. Já preguei em algumas igrejas da qual – após o pastor ter me deixado na calçada do aeroporto – nunca mais tive notícias. Não tolero manifestações artificiais de coleguismo restritas a cultos festivos. Para mim, nada é mais ridículo do que ficar proclamando que somos uma “só família” em Cristo para depois sair criticando uns aos outros com farpas venenosas.

Quero ser amigo de quem não contenta em re-encaminhar mensagens re-encaminhadas de power-point da internet. Não gosto de cartões de aniversário com frases prontas e com obviedades. Acredito que os verdadeiros amigos têm o que repartir e que sentem necessidade de expressar seus sentimentos, suas dúvidas e principalmente seus medos e desesperos. Amizades superficiais são mais danosas para o espírito do que inimizades explícitas.

Quero ser amigo de quem não é muito certinho. Não tolero conviver com gente que nunca tropeça nos próprios cadarços, que nunca teve sonho erótico e que mantém a língua sob controle absoluto. Vez por outra, gosto de relaxar, rir do passado, sonhar coisas malucas para o futuro e conversar trivialidades. Quero amigos que se deliciem em ouvir uma mesma música duas vezes para perceber a riqueza da letra; de comentar o filme que acabaram de assistir, o último livro que leram e de, numa mesma conversa, elogiar e espinafrar políticos, pastores, atores, árbitros de futebol e serem capazes de chorar com poesia.

Quero terminar meus dias e poder dizer que, mesmo descrendo das ideologias, dos sistemas econômicos e das instituições religiosas, acredito em verdadeiras amizades porque tive bons amigos. Até porque Deus não só ama, como também nos chamou de amigos.

Soli Deo Gloria.

Se eu fosse mais velho...

Se eu fosse mais velho!

Ricardo Gondim Rodrigues

Não estou com pressa de envelhecer. Meu pai padece há anos de uma doença que lhe deixou senil e caquético. A velhice me intimida. Sei que na terceira idade não só perderei a impetuosidade típica dos jovens, como me tornarei mais vulnerável às doenças degenerativas. Mesmo assim espero pelos meus dias de ancião, porque só os velhos podem dizer coisas proibidas aos jovens. Estou ansioso para que chegue o tempo de poder dizê-las.

Se eu fosse mais velho...

Eu diria aos mais jovens que desistam do sonho de galgarem a fama em nome de Deus. Contaria que já presenciei o desespero de alguns, almejando se destacarem como referenciais de sua geração para depois descerem do trem fatigados e destruídos pelo ônus da fama. Descreveria os bastidores da algumas "grandes" agências evangelísticas

e de outras para-eclesiásticas e como me enojei com a petulância de alguns evangelistas famosos. Falaria de minhas lágrimas, quando um deles afirmou que passaria por cima de qualquer pessoa desde que conseguisse estabelecer o que chamou de "reino de Deus". Incentivaria os jovens a buscarem uma vida discreta sem o glamour do mundo, que preferissem a senda do Calvário. Pediria que optassem por beber o cálice do Senhor a desejarem os loiros da glória humana.

Se eu fosse mais velho...

Eu diria aos mais jovens que ambicionam subir os degraus denominacionais, que eles perigam chegar no topo sem alma. Narraria os conchavos da política eclesiástica como ridículos e fúteis. Candidamente, contaria casos de traição, logro e delação nas reuniões secretas de algumas cúpulas religiosas. Pediria para fugirem da ganância pela autoridade institucional. Ensinaria a desejarem autoridade espiritual; que não vem de negociatas, mas de uma vida piedosa e íntima com Deus.

Se eu fosse mais velho...

Diria aos mais jovens que não se iludissem com o academicismo. Eu lhes revelaria como alguns acadêmicos usam da sua erudição para se esconderem de Deus. Não teria medo de mostrar que muita bibliografia citada em rodapés, vem da uma vaidade boba. Algumas pessoas buscam se mostrar mais cultas do que na verdade são. Diria que certos eruditos são pessoas insuportáveis no contacto pessoal e que eles também padecem dos mesmos males que todos nós: intolerância, indiferença e muita; muita soberba. Contudo, eu lhes pediria para serem amigos dos livros. Pediria que lessem muito e diversificadamente; que usassem o conselho de Tiago na busca da sabedoria: "Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras. A Sabedoria, porém, lá do alto, é primeiramente pura; depois pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento". (Tg 3.13,17).

Se eu fosse mais velho...

Eu diria aos mais jovens que tomassem muito cuidado para não gastarem todas as suas energias nos primeiros anos de ministério. Exortaria, ilustrando o serviço a Deus como uma maratona e que não adianta se apressar nos primeiros anos. Relataria os exemplos de tantos que se arrebentaram antes da linha de chegada. Quantos pastores destruíram suas famílias e filhos no afã de serem úteis e produtivos! Quando chegaram os anos da meia idade, já se encontravam estressados e cansados! Falaria daquele dia em que o meu semblante descaiu ao ouvir um pastor dizer que só não saía do ministério porque, já muito velho, não sabia como retornar ao mercado de trabalho. Pediria que não perdessem a oportunidade de passear com os filhos no parque, de lerem livros que não fossem úteis ao ministério, de curtirem a sua mulher e de praticarem algum esporte. Eu lhes pregaria um sermão baseado em Mateus 16.26 e explicaria que, para Jesus, perder a alma tem um sentido mais amplo do que simplesmente morrer e ir para o inferno.
Basearia minha mensagem na afirmação de que é possível, pastor ou evangelista, ganhar o mundo inteiro e acabar perdendo os afetos do cônjuge, os sentimentos dos filhos e dos amigos, a auto-estima, o sorriso, a capacidade de amar poesia e de cantar canções de ninar. Enfim, perder a alma!

Se eu fosse mais velho...

Eu diria aos mais jovens que não desejassem o espalhafato espiritual e as demonstrações exuberantes do poder carismático. Revelaria que alguns desses evangelistas americanos, que muitos acreditam super ungidos, passam a tarde na piscina do hotel em que se hospedam, antes de encenarem a sua super espiritualidade em mega eventos. Não temeria denunciar alguns que se trancam nos seus aposentos, assistindo filmes na televisão e logo depois subirem às plataformas com o ar de santos da última hora. Não hesitaria alardear, que muito daquilo que se rotula como demonstração de poder espiritual, nasce de uma mentalidade que busca levar as pessoas a uma falsa euforia religiosa.
Se eu fosse mais velho...

Eu diria aos mais jovens que a sexualidade é terreno minado e cheio de armadilhas. Contaria tantos exemplos de ministérios que ruíram pela sensualidade. Alertaria que o grande perigo do sexo não vem da beleza, mas da solidão e do poder. Tantos pastores naufragaram em adultério porque se sentiram sós. Não possuíam amigos verdadeiros. Viviam rodeados de assessores, sem um amigo com quem pudessem abrir o coração e pedir ajuda. Incentivaria a desenvolverem amizades, preferivelmente fora de seus quintais denominacionais. Suplicaria que fizessem amigos com coragem de falar coisas duras, olhando nos olhos. Lembraria que são fiéis as feridas feitas por aquele que ama.

Se eu fosse mais velho...

Eu diria aos mais jovens que tomassem cuidado com os modismos teológicos, ventos de doutrina e novidades eclesiásticas. Falaria das inúmeras ondas que varreram as igrejas com pretensas visitações de Deus. Vermelho de vergonha, lembraria aquele culto em que se alardeou que Deus estava trocando as obturações por ouro. As pessoas se sujeitando ao ridículo de investigarem a boca uns dos outros e depois, ao confundirem as restaurações amareladas de material de baixa qualidade, com ouro, saírem proclamando um milagre de Deus. Relataria a pobreza doutrinária daqueles que jogaram os evangélicos na paranóia da guerra espiritual. Ensinaram as mulheres a vigiarem mais durante a menstruação, porque há demônios que se alimentam daquele tipo de sangue. Imploraria que se mantivessem fiéis ao leito principal do Evangelho, à Doutrina dos Apóstolos; que não deixassem de pregar a Cruz do Calvário.

Se eu fosse mais velho...

Eu diria aos jovens para não procurarem imitar ninguém. Lamentaria a tentativa patética de alguns líderes de quererem ser clones de pastores e evangelistas de renome. Mostraria vários exemplos ridículos de igrejas que tentaram reproduzir no sofrido Brasil, o modelo de igrejas abastadas dos subúrbios americanos. Admoestaria que soubessem aceitar-se. Pediria para não ficarem procurando repetir gestos, neologismos, tom de voz e maneirismos dos outros, pois acabarão sem identidade. Eu mostraria na Bíblia que Deus não nos cobrará por não ensinarmos com a destreza de Paulo, nos portarmos com a ousadia de Pedro, ou escrevermos com o mesmo amor de João. Deus nos pedirá contas apenas por não termos vivido nossa própria identidade.

Se eu fosse mais velho...

Diria aos jovens que a obra que Deus tem para fazer em nós é muito maior que aquela que ele tem para fazer através de nós. Diria que somos preciosos como filhos e não como servos. Melancolicamente falaria que na velhice, muitos sentem saudade dos tempos que poderiam ter sido íntimos de Deus, mas acabaram chafurdados nos pântanos de sua própria vaidade. Diria que na velhice muitos choram por saberem que o tempo da partida está próximo e não escolheram a melhor parte, como fez Maria.

Eu deveria esperar para dizer essas coisas quando estivesse mais velho. Por impetuosidade acabei dizendo antes do tempo. Contudo, acredito que não me arrependerei de tê-las dito agora.